segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Simplificando a crise


A crise está tão feia que nem economista está entendendo direito, só quem consegue entender e saber que não vai acontecer nada com o Brasil é o Sr. Luís Inácio.
Para facilitar, ou pelo menos obter uma visão mais fácil de ser entendida, faremos uma analogia da crise com o nosso dia-a-dia, de pobres mortais.
Imaginem que na Vila Dureza, o seu Creisson resolveu vender a crédito para os seus fregueses mais antigos, eles estão passando por aperto e são fregueses conhecidos de longa data, não implica que sejam bons pagadores, são conhecidos do seu Creisson que agora em vez de pagar a vista, começam a anotar na caderneta.
O seu Creisson, que de bobo não tem nada, aumenta o preço dos produtos sob o argumento de "quem paga a prazo sabe que paga mais". Esse acréscimo é chamado de sobre preço, ou preço a mais que os fregueses estão dispostos a pagar por comprar a prazo.
O filho do seu Creisson, rapaz que trabalha no banco da pequena cidade e, portanto, "sabe tudo de finanças", deduz que a caderneta da vendinha da Vila Dureza na verdade trata-se um ativo, de como se diz no banco, um recebível e pede um empréstimo ao gerente como adiantamento sobre esse recebível. O gerente que não conhece o seu Creisson, nem a Vila Dureza e muito menos os fregueses do seu Creisson faz o empréstimo, "porque a taxa de juros, ou o spread, é tão bom que vale a pena arriscar".
Os executivos do banco que nem conversam e nem conhecem o "gerentinho" da agência no interior observam a nova captação de recebíveis que chegou à instituição.
Como fizeram "emibiei" e são doutores em finanças, os executivos nem se preocupam em ligar para a agência, sabem que o negócio hoje é agilidade e lucro e vão para o mercado lastrear a operação, ou seja, vão captar dinheiro no mercado via CDB, RDB, TERETETE, e outras centas mil siglas que só eles conseguem traduzir, para cobrir o dinheiro que saiu com o empréstimo para o seu Creisson.
Só que tem um detalhe, banco que é banco, não pega somente o valor que o seu Creisson emprestou, eles fazem a chamada alavancagem, explicando, pegam muitas vezes mais o valor que emprestaram, pois, "agora com certeza um mercado novo esta se abrindo e vamos ganhar muito". A alavancagem no mercado de capitais leva a operações estruturadas em derivativos, títulos derivados de outros, que são negociados nas bolsas de mercadorias e futuro (BM&F) e que operam com commodities. Commodity significa mercadoria, são papeis que transacionam produtos como soja, trigo, café, ouro, petróleo, ferro, aço, etc., que são produtos de base em estado bruto (matérias-primas) ou com pequeno grau de industrialização, de qualidade quase uniforme, produzidos em grandes quantidades e por diferentes produtores.
Os operadores da BM&F que nem imaginam que exista o seu Creisson, mas sabem que as operações podem ser arriscadas, buscam as seguradoras para se garantirem e fazem os hedges, seguros contra eventuais perdas.
Pronto todo mundo no mercado fazendo e ganhando dinheiro com a caderneta da vendinha do seu Creisson, lá da Vila Dureza, que não sabe nem preencher um cheque.
Um dia o gerentinho da agência do interior, acompanhando o seu funcionário, vai à casa do seu Creisson tomar uma cervejinha e descobre que os fregueses não estão pagando a caderneta, que o seu Creisson está quebrado e, portanto, não vai ter como pagar o empréstimo. Quebrou-se a cadeia.
Os bancos não confiam mais no varejo, o mercado não confia mais nos bancos, o varejo não confia mais nas seguradoras que não confiam mais no mercado, em resumo, ninguém confia mais em ninguém. A crise é estabelecida.

Publicado no jornal O Progresso em 12 de outubro de 2008 Imperatriz - MA