quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Pense num centavo caro

Esta semana vi numa reportagem, em uma emissora de TV local, que estão faltando moedas na praça, as famosas moedinhas estão sumindo do comércio e deixando os comerciantes “loucos” sem ter como dar o devido troco aos clientes.
Quem, como eu, já tem mais de 40 anos conviveu com essa experiência, é só nos lembramos quando ocorriam os “pacotes econômicos de governo”, que vinham acompanhados de congelamento de preços, troca de moeda, corte de zeros, congelamento do câmbio e etc. Antes dos pacotes ninguém abaixava para pegar uma moeda caída no chão, ela não valia nada, depois da implantação dos pacotes comprava-se moeda com ágio.
O fato do “sumiço” das moedas, na verdade, não é que as moedinhas repentinamente fugiram do mercado e se esconderam em cofrinhos de crianças que são contra a economia e o troco farto, mas sim porque que elas começaram a ter valor e sua falta agora é notada.
Os centavos que até bem pouco tempo eram desprezados pelos clientes nos caixas das lojas, supermercados e farmácias, agora são solicitados e reclamados pelos mesmos clientes, pois, agora eles estão valorizados.
A moeda brasileira esta valorizada, notadamente frente ao dólar americano, e esta valorização não é decorrente de um pacote, de uma medida provisória ou outro artifício qualquer, a nossa moeda agora esta sofrendo influências do mercado. Quem dita quanto vale o Real, não é mais o ministro da Fazenda ou o presidente do Banco Central, mas sim o mercado. As políticas monetárias aplicadas influenciam, mas não são mais o único vetor para o alinhamento de preços no câmbio.
Este fator é extremamente positivo, pois, mostra um país com economia equilibrada, sem sobressaltos, com rumo certo e moeda estável e forte.
Mas como não existe o bem sem o mal, vejamos o lado ruim do que esta ocorrendo. Há alguns anos o Banco Central do Brasil suprimiu a moeda de 1 centavo, ou seja, parou de fabricar a moedinha porque ela era desprezível em seu valor de face e cara em seu valor de produção e reduziu a produção das outras moedas menores, pelo mesmo motivo. Para a época a atitude foi correta e cabível como é igualmente devida agora que as moedinhas de centavos voltem ao mercado. Não pensem os senhores leitores que estou sendo um muquirana, mão-de-vaca ou outro adjetivo equivalente, que normalmente tenho ouvido, quando peço o troco completo ou a diferença a meu favor. Vejamos uma conta rápida:
Se pegarmos uma rede de supermercado que tem duas lojas aqui na cidade, por onde passam em média sete mil clientes diariamente, e multiplicarmos essa quantidade por míseros centavos que não exigimos para não passarmos por canguinha, mão-de-vaca, muquirana, etc., vamos ver quanto resulta no total.
Se o valor da moeda for de:
  • R$ 0,01, isso representa R$ 70,00 reais por dia, R$ 490,00 por semana, R$ 2.100,00 por mês e R$ 25.550,00 por ano.
  • R$ 0,05 isso representa: R$ 350,00 ao dia, R$ 2.450,00 por semana, R$ 10.500,00 mensal e R$ 127.750,00 por ano.
Valor que dá para sortear 5 carros populares para os clientes que deixaram o troco “voluntariamente”.
Gostaram da conta? Portanto caros amigos leitores exijam seu troco correto, é dever e obrigação do comerciante oferecer o troco correto, ou a diferença a seu favor. Lembre-se quantas vezes por não ter uma moedinha, você deixou de comprar algo.
Artigo publicado no jornal O Progresso em 20.01.2008

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Não arrisco, há risco

Ultimamente temos sidos tranqüilizados pelas autoridades governamentais sempre nos informando que não há riscos, a cada problema que é levantado a informação é sempre a mesma, não há risco. De acordo com o Dicionário Michaelis risco é: “Possibilidade de perigo, incerto mas previsível, que ameaça de dano a pessoa ou a coisa.”, mas para nós:
  • Não há risco de epidemia de febre amarela, apesar do crescimento de casos noticiados pela imprensa e do português (o ministro da Saúde é português) ministro do Brasil informar que não precisamos de vacinação em massa.
    Os governos de outros países estão recomendando aos turistas que vêem para o Brasil se vacinarem com antecedência, e alguns países exigem de turistas brasileiros a carteira de vacinação, contra a febre, para adentrarem no seu território.
  • Não há risco de apagão, apesar do preço da energia, em leilões específicos, ter praticamente quintuplicado nos últimos meses.
    Poderá não ocorrer falta de energia em nossas casas, mas o preço em alta faz com que o custo de produção fique mais caro, para baratear os custos a ação imediata é o corte de despesas, e como funcionário é despesa, podemos ter luz, mas não dinheiro para pagar a conta;
  • Não há risco de falta de gás, apesar do nosso maior fornecedor, a Bolívia, já ter anunciado um racionamento escalonado entre os seus principais compradores, Brasil e Argentina, e estar sofrendo de carência técnica, já que “exportou” os técnicos da Petrobrás.
    Os aumentos que já ocorreram nos preços do gás afetaram algumas indústrias no sul e sudeste que investiram na transformação de seus parques industriais para operar com gás importado.
  • Não há risco de crescermos menos de 5% a.a, apesar da já anunciada crise no sistema bancário americano (com fortes respingos sobre o sistema bancário europeu) que vem influenciando a economia, já produzindo a maior inflação americana dos últimos 17 anos.
    Como bem conhecemos, recessão é o remédio ortodoxo para a inflação, e recessão nos EUA significa que 25% do comércio mundial estarão com o pé no freio, e numa economia cada vez mais globalizada, todo o mundo é afetado pelo que acontece em Wall Street (Bolsa de Valores) e Chicago (Bolsa de Mercadorias), enfim pelo que acontece na América do Norte.

Eles estão prometendo que não há possibilidade de perigo algum (não há risco), mas levando-se em consideração que arriscar no dicionário é: “Expor(-se) a bom ou mau sucesso, oferecer(-se) ao arbítrio da fortuna; aventurar(-se)”, não vou arriscar.
Não custa nada se vacinar, economizar energia, administrar o consumo de gás, fazer uma poupança para garantir o futuro.
Afinal não haveria apagão aéreo e temos três dos nossos principais aeroportos (Brasília, Congonhas e Cumbica) como os piores do mundo.

Multipresidente

Tenho o hábito, ou mania não sei bem dizer, de todo final de ano dar uma repensada de como foi o ano que se finda, comparo-o aos anos anteriores e fico imaginando e planejando o ano ou anos seguintes, ou seja, como a grande maioria das pessoas nesta época, faço planos e tendo rever os meus erros para não comete-los novamente. Trabalhei com um diretor de uma grande empresa que sempre nos repetia “vamos fazer erros novos, chega de repetir sempre os mesmos”.
Fazendo essa comparação do ano que passou com os anos passados vi que minhas críticas ao governo Lula eram injustas, afinal chegamos ao IDH 0,800 entramos no rol dos países com alto Índice de Desenvolvimento Humano; estamos entre as dez nações mais ricas do planeta; aparentemente, apesar de todo alarde, a perda da arrecadação da CPMF de R$ 40 bi/ano não deixou o presidente tão preocupado assim e até já arrumaram um jeito de controlar os famigerados Caixas Dois de outra maneira; tivemos o maior superávit primário desde 1998; a Bolsa de Valores cresceu de maneira sustentada e foi o melhor investimento do ano, etc, etc, etc, ou seja, “Nunca na História Desde País” estivemos tão bem.
Como professor e economista me senti obrigado a fazer uma análise um pouco mais aprofundada desde momento histórico vivido pelo nosso país e vou explicar o porquê do título desde artigo, senão vejamos:
O primeiro presidente do Brasil que afirmou que ia deixar a esquerda perplexa e a direita estupefata (não lembro se nessa ordem) foi o presidente Collor, prometeu e cumpriu, deixou-nos a todos tontos, independente da formação política. O segundo que fez isso foi o Sr. Luis Inácio e sem alardear pra ninguém, afinal foi eleito “pelo povão” que queria mudanças na política e na economia. Não mudou a política, nem a economia e foi reeleito por ampla maioria. O Collor que precisava constantemente criar frases de efeito: “tenho aquilo roxo”, “o tempo é o senhor da razão”, “minha gente”, etc. deve que renunciar por pressão popular. O Luis Inácio com duas frases: “eu não sabia” e “nunca na história desse país”, sofre pressão para o terceiro mandato.
O primeiro presidente do Brasil que adorava viajar e deixar tudo na mão do ministro da fazenda foi o Itamar que tentou tantos ministros quantos foram necessários até acertar um, coincidentemente o Fernando Henrique. O Luís Inácio teve o Palocci, que incumbido da política econômica deu conta de primeira, foi esperto o suficiente para não inventar a roda e sim continuar a fazê-la girar tal qual estava girando, passando segurança e estabilidade ao mercado mundial, enquanto o Luís Inácio viajava pelo mundo mostrando que no Brasil existia democracia de fato, que mesmo sendo candidato popular e de esquerda, ganhou e levou.
O primeiro presidente a conseguir (não sei se esse é o termo correto) a reeleição foi o Fernando Henrique, que após “extenuante” batalha no congresso conseguiu emplacar a nova ordem, mesmo com os votos contrários do partido do Luís Inácio que era radicalmente contra. Era contra a reeleição assim como era contra as privatizações que acabaram propiciando um enorme crescimento no setor de serviços, que acabou beneficiando a nova sistemática de cálculo do PIB que finalmente acabou elevando a renda per capita que entrou no cálculo do IDH de 0,800. Era contra o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) que acabou por resultar num sistema financeiro sólido e confiável, capaz de atingir hoje lucros que nunca na história desse país tinham atingido. Era contra a aproximação do Fernando Henrique com o presidente dos Estados Unidos, o democrata Bill Clinton, mas é parceiro do republicano “companheiro Bush”.
Minhas divagações continuam e acabo viajando demais, lembrando de coisas pequenas como a crítica correta ao Fernando Henrique quando pediu que esquecessem o que escreveu, mas afirmando agora “que quando se esta no governo enxerga as coisas diferentes, mais para o centro”.
Acho que deu para o leitor entender agora o título do artigo, o presidente aparentemente mais ignorante, por não ter estudado, é na verdade o mais inteligente e o mais sagaz, pois, soube e sabe aproveitar muito bem tudo o que os outros, inclusive o Luís Inácio, fizeram de bom e de ruim.
Artigo publicado no jornal O Progresso em 13.01.2008

Doença Holandesa

Calma, não é mais uma doença no gado, tipo a febre aftosa, nem é tampouco uma doença causada pela ingestão de produtos estranhos no leite consumido diariamente. Essa doença tem origem na Holanda (daí o seu nome) e surgiu nos anos 60 quando o país descobriu uma imensa reserva de gás natural
“Depois das descobertas, seguiu-se um período em que a Holanda se transformou em grande exportadora de energia, provocando a valorização do florim que, por sua vez, reduziu a competitividade dos bens de origem industrial, resultando em desindustrialização. As indústrias têxteis e de vestuário praticamente desapareceram, indústrias tradicionais, como de veículos e de navios, encolheram, enquanto cresceu o setor de serviços. Esse processo foi denominado doença holandesa” (SCHEINKMAN, 2006).
Esse temor tem assombrado as mentes de alguns economistas do nosso Brasil brasileiro, e não sem motivo, senão vejamos:
O Brasil afirmando sua tradição econômica colonial é um grande exportador de commodities, tais como a soja e o ferro. Com o crescimento da demanda mundial desses produtos, essas exportações têm propiciado superávits comerciais que vêem se transformando em acumulação de reservas.
Essa acumulação de reservas torna o país mais seguro para os investidores estrangeiros (e muito atraente pelo montante de juros reais pagos), quanto maiores as reservas, tanto mais seguro se torna investir no país, quanto maior a segurança, menor risco Brasil, quanto menor o risco mais investimentos, quanto mais investimentos, mais dólares entrando, quanto mais dólares entrando, melhores as reservas e assim segue-se um ciclo que aparentemente é virtuoso, mas pode se tornar perigoso.
Perigoso porque este processo, juntamente com outros fatores da conjuntura global, esta levando a moeda nacional a uma consistente valorização frente ao dólar.
O real valorizado torna mais caro o produto nacional, dificultando e até inviabilizando a exportação de produtos que não estejam com a demanda aquecida pelo mercado internacional. O real valorizado frente ao dólar leva as indústrias nacionais a trabalharem unicamente para o mercado interno, onde enfrentam forte concorrência com os produtos importados que se tornam cada vez mais acessíveis devido ao mesmo motivo, moeda nacional valorizada.
Não é preciso ser economista ou vidente para perceber que a indústria nacional pode pegar o vírus da doença holandesa, ainda mais se for levado em conta que tanto lá na Holanda como aqui no Brasil o setor que vem apresentando crescimento e lucros absurdamente altos é o setor de serviços. Este fato é facilmente comprovado pelos lucros, exorbitantes, divulgados pelas principais instituições bancárias ultimamente.
As empresas transnacionais não são afetadas por essa doença, pelo sistema que operam elas são ao mesmo tempo exportadoras e importadoras, sempre transacionando de maneira que obtenham o maior lucro, independentemente do país onde estejam situadas suas plantas.
O quadro acima já estava posto, quando a Petrobrás anuncia a descoberta do poço de Tupi em Santos, São Paulo, que pelas primeiras informações, poderá mais que dobrar as reservas brasileiras incluindo o Brasil no time dos exportadores de petróleo, um novo membro da OPEP, como alardeou o sheik Lula.
Se a possibilidade de surgir no país o “mal dos recursos naturais” (outro nome da doença holandesa) já era grande, é de causar preocupação o surgimento de tamanha reserva natural.
De acordo com a Área de Pesquisa Econômica (APE) do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) o crescimento nos investimentos mapeados na indústria para o período 2008/2011 esta estimado em 12,4% a.a., sendo que se destacam os setores Extrativo Mineral e o Petroquímico, ou seja, commodities.
Se não houver uma visão estratégica do governo, o desenvolvimento do país poderá estacionar e deixar o Brasil a mercê do mercado internacional, tal qual o Peru na época do guano em meados do século XIX.
Enquanto o mercado mundial estiver aquecido com a demanda de commodities o Brasil segue seu curso, exportando e consumindo importados baratos e de qualidade duvidosa, sem se preocupar em desenvolver e estimular a indústria nacional que gera emprego, renda e que não exporta royalty.
Quando a festa acabar, como aconteceu com o guano no Peru, poderão restar somente os escombros de uma tsunami.