segunda-feira, 9 de junho de 2008

Aumento nos juros, quem ganha?



Começa novamente a subida dos juros, a taxa selic que ficou por seis meses, de outubro do ano passado a março deste ano, em 11,25% passou em abril para 11,75%, primeiro aumento desde maio de 2005, e agora chegou a um novo patamar, indo a 12,25% e a justificativa é a previsão do mercado que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) deve atingir 5,4%, fugindo assim do centro da meta que é de 4,5%. Foge do centro, mas ainda esta dentro da margem das bandas de vai de 2,5% a 6,5%.
A política monetária aplicada pelo Banco Central não é errada e tem mostrado que funciona, pois, vem conseguindo controlar o monstro que não queremos que acorde nunca mais. Entretanto não podemos ficar reféns de uma só política ou de uma única maneira de fazer esse controle, lembram quando o ex-presidente Collor falou que tinha um único tiro para abater a inflação? O tiro feriu, mas não matou. Não podemos ficar dependentes novamente de um único tiro. A política fiscal é tão ou mais importante que a política monetária. A redução dos gastos do governo pode e deve ser utilizada como um freio à inflação, notem que invoco a redução dos gastos e não dos investimentos, estes sim necessários e que devem ser estimulados, pois, se a inflação que nos afeta é mundial e esta por sua vez é de demanda, ela só poderá ser debelada corretamente se for combatida com oferta. A idéia de sempre combater a inflação de demanda com aumento dos juros e retração do consumo esta ficando perigosa, pois, represa o consumo que uma hora ou outra vai aparecer, o mercado é dinâmico e todos os dias surgem meios de vender mais e reduzir custos.
O aumento dos juros implica obviamente no aumento da nossa dívida interna, que já não é pequena, o que acaba consumindo o superávit e jogando fora todo o esforço que tem sido feito para aumentá-lo.
Como tomamos dinheiro emprestado dos bancos vamos continuar a ler nas manchetes a cada fechamento de balanço dos bancos que “nunca antes na história desse país” os bancos lucraram tanto. Na divisão da riqueza, que é produzida no país, a conta é simples, se alguém ganha alguém perde, se os bancos ganham, adivinhem quem perde?
Não é a toa que em matéria publica esta semana no Jornal do Brasil a manchete é “Brasil é o mercado preferido pelos bancos internacionais” (JB 05.06.08 pg. A17) a matéria que relata sobre um estudo realizado pela consultoria Economist Intelligence Unit (EIU) sobre a América Latina, informa que “O Brasil é claramente identificado como o destino preferido dos investimentos no setor bancário com 71%”, de acordo ainda com o estudo “61% dos executivos do setor financeiro entrevistados disseram que hoje a região responde por menos de 10% das receitas totais dos bancos” e “entre os executivos europeus, o Brasil é apontado como primeira opção”. Não é muito difícil entender essa preferência pelo Brasil quando lembramos que praticamos o maior juro real (juros menos inflação) do mercado mundial e que enquanto a taxa selic é de 12,25% a taxa cobrada no cheque especial atingiu em abril, segundo o banco central, 152,7%, um spread considerável, imagine quando chegarmos ao final do ano com a taxa prevista de 13,50% a 14,00%, a quantas andará o cheque especial?
É por isso que sempre digo aos meus alunos que no Brasil existem três negócios que tem lucratividade certa: primeiro - um banco muito bem administrado, segundo – um banco razoavelmente administrado e terceiro – um banco mal administrado.
Publicado no jornal O Progresso de 08 de junho de 2008 - Imperatriz MA

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