segunda-feira, 28 de julho de 2008

Comprei! Mas pagar...




“Eu não vou diminuir o consumo neste país, porque se tem uma coisa que o povo pobre passou a vida inteira esperando é o direito de comer três vezes ao dia, o direito de entrar num shopping e comprar uma roupinha, comprar alguma coisa e isso nós vamos garantir.” Lula”
O Sr. Luis Inácio não deve conhecer nenhuma proposição, entre a enorme quantidade de definições existentes, do que é economia enquanto ciência.
A que melhor resume o seu significado é: A economia é a ciência que estuda as vontades ilimitadas frente a recursos limitados, e essa dicotomia é o motivo do crescimento da nossa economia nos últimos anos, eu explico.
Enquanto o mundo crescia a passos largos o Brasil estava ficando pra traz, a economia mundial estava aquecida e nos não estávamos sentindo esse aquecimento aqui nas terras “descobertas” por Cabral, isso porque nosso parque industrial não recebia estímulos para crescer devido às altas taxas de juros praticadas. Por que o empresário iria aplicar seu dinheiro na produção, correndo os riscos, pagando impostos, contratando funcionários, etc., se ele podia usar seu capital para girar e ganhar no mercado financeiro. Assim fizeram os empresários e aplicaram tanto que começou a sobrar dinheiro no mercado, ora se tem dinheiro sobrando e os juros são altos tem que se fazer algo para que os juros não caiam e o dinheiro continue rendendo dinheiro.
A grande solução foi emprestar para o pobre, pobre não percebe juros altos se a parcela for pequena, se caber no bolso. Dessa ação iniciou-se o alargamento nos prazos de pagamentos, os carnezinhos passaram a ganhar mais páginas, pobre passou a ter cartão de crédito para pagar em parcelas seus sonhos de consumo, os aposentados, pensionistas e funcionários públicos “ganharam” o direito de fazer empréstimos “baratinhos”, desde que descontados na fonte, ou seja, a ciranda financeira levou as classes D e E para o consumo e incentivou ainda mais a volúpia consumista das classes C e B.
Estava resolvido o problema, as vontades ilimitadas passaram a ser atendidas, não pela geração de recursos, mas pela facilidade de pagamento.
Agora sim dá pra comprar aquela geladeira nova, a prestação significa só 10% do salário, e levando também aquele aparelho de som tão desejado aumenta só mais um pouquinho na parcela e ainda a loja divide em mais vezes, dá pra levar, afinal pobre é assim mesmo, se não dever não tem.
E o carro então, agora dá para comprar o tão sonhado carrinho para levar a família pra passear no domingo, afinal eles dividem em 60 meses, nem precisa dar entrada e a primeira é só pra daqui a 90 dias. Um apertinho aqui, mais outro apertinho ali e veio geladeira, TV de LCD, aparelho de som, carro, e tudo o mais que o sonho conseguiu alcançar com as prestações. Essas compras todas aqueceram a economia, que acabou por gerar mais empregos, que gerou mais compras, que agora infelizmente não dá para gerar mais empregos, porque os empresários não investiram nas empresas e não tem como aumentar a produção. O resultado é simples, tendo como comprar, mas não como produzir os preços aumentam, é a chamada inflação de demanda que esta ai batendo a nossa porta, elevando principalmente os preços dos alimentos, devido à conjuntura internacional.
Agora a prestação que dava pra pagar, apertando aqui e ali, ficou pesada, pois, o povo ou come ou paga a prestação. Como é impossível ficar sem comer, vamos começar a ver nos noticiários: Aumenta o índice de inadimplência; Aumenta a inclusão de pessoas no SPC – SERASA, etc.
Vai ficar mais difícil ir ao shopping comprar uma roupinha.


Publicado no jornal O Progresso em 27 de julho de 2008 Imperatriz-MA

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