segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O que não presta a gente manda embora




Na minha infância morei alguns bons anos em Águas de Lindóia, cidade turística no interior do estado de São Paulo. Cidade de águas miraculosas e clima agradável, uma cidade pequena e muito organizada, limpa, bem cuidada com suas ruas e praças sempre limpas, cidade arborizada contava, não sei se ainda conta, com um belo bosque no centro, cortando o caminho da estação termal até à enorme praça que tinha lago com águas dançantes, mini zoológico e até heliporto.
Uma das coisas que sempre me intrigou é que na cidade não tinha cadeia, os mais velhos diziam que “o que não presta a gente manda embora”.
A delegacia local conduzia para a cidade vizinha, a pequena Lindóia que contava com cadeia pública, os meliantes da graciosa Águas de Lindóia.
Este fato guardado na minha lembrança veio à tona hoje, com a extradição do megasuperhiper traficante Juan Carlos Abadía. A analogia com a situação de Águas de Lindóia foi imediata, “o que não presta a gente manda embora”. Claro que não se pode comparar os ladrões de galinhas de Águas de Lindóia enviados para a pequena Lindóia, com o traficante extraditado para os EUA, país onde ele tem um número de condenações muito maior que no nosso.
No Brasil Abadía foi condenado a 30 anos e cinco meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção ativa. Já nos Estados Unidos ele responderá pelos crimes de homicídio, tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, entre outros.
De acordo com o Secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior a extradição se justifica, pois, segundo ele "Temos que causar o maior grau de letalidade possível às organizações criminosas. No caso de Abadia, tenho convicção de que a extradição imediata dele vai cumprir melhor esse objetivo, pois as investigações relacionadas a ele no Brasil já foram esgotadas".
Hoje 22.08 o traficante foi entregue, em solo brasileiro, para policiais americanos que o levaram para responder por crimes cometidos lá na América do Norte.
Para mim, entretanto, ficaram algumas dúvidas:
- Ele foi extraditado pelo motivo alegado pelo Secretário Romeu Tuma Júnior, ou pela ameaça a juízes, autoridades da área de segurança e políticos que seriam alvos de seqüestros e extorsões por parte da quadrilha?
- O diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Wilson Damásio, confirmou à Agência Estado de Notícias que “o objetivo final dos planos de Abadía era mesmo garantir a fuga do presídio em troca da libertação de autoridades feitas reféns". Preso consegue fazer planos em presídio de segurança máxima?
- Em janeiro deste ano Abadía ofereceu US$ 40 milhões ao juiz da 6ª Vara Federal Criminal Especializada de São Paulo, Fausto Martin de Sanctis, em troca de alguns benefícios, dentre os quais a extradição para os EUA. O juiz não só não aceitou a indecorosa proposta de negociata do traficante, como deu o prazo de 48 horas para que ele revelasse onde estaria o dinheiro escondido no Brasil.
Passados oito meses a extradição ocorreu, o acordo com a justiça de São Paulo não foi feito e o dinheiro? O gato comeu?


Publicado no jornal O Progresso em 24 de agosto de 2008 Imperatriz-MA

Nenhum comentário: