domingo, 11 de maio de 2008

SEGURANÇA ALIMENTAR


O assunto que vem dominando as pautas das mídias, impressa, falada e eletrônica, em todo o mundo atualmente é a falta de alimentos e a inflação nos preços, decorrente dessa falta. Em cada informação que se olha acha-se um culpado, ora é o aumento de consumo pelas classes mais pobres do mundo, como se pobre estivesse agora participando de banquetes para combinar como dominar o mundo através do consumo, Ora é a produção de biocombustíveis no Brasil, como se fosse possível do dia pra noite trocar a plantação de arroz, feijão e outros grãos por cana de açúcar. Outra ora são as commodities agrícolas sofrendo especulação dos abutres financeiros fugindo do mercado sub prime americano, etc, etc, etc.
Nunca vamos achar um “culpado” exclusivo, ou seja, não há uma única causa, é uma maneira muito simplista acusar essa ou aquela classe de consumo, esse ou aquele governo, esse ou aquele investidor, na verdade o que ocorre é um conjunto de fatores que terminam por acarretar um fato.
Os pobres estão comendo mais? Não! Estão comendo. O que é básico para qualquer um de nós, para muitos pelo mundo afora, principalmente nos países do terceiro mundo, esta se tornando algo possível, se alimentar.
O Brasil produz álcool da cana de açúcar a mais de 30 anos, temos a melhor tecnologia, o melhor solo, o melhor clima, as melhores sementes, resumindo nesse campo dominamos e isso não é visto com muitos bons olhos pelos nossos amigos do norte. Trocamos sim alguns alqueires de gado de corte por área de cana, mas nem por isso deixamos de ser o principal exportador de carne no mundo, o que mostra que não foi isso que trouxe fome, até porque a falta é de proteína vegetal e não animal e menos gado significa menos alimento para bois (soja, milho, etc) e mais para pessoas.
Ataque especulativo sobre as commodities, sim há e gerou aumento nos preços, pois, as próximas quatro safras mundiais já foram negociadas nas bolsas de mercadorias, só que este fato não é assim tão divulgado, fica só entre os especialista, porque remete a um fato anterior e este sim podemos chamar de fato gerador da crise atual. Notem que chamo de fato gerador e não único.
O fato que propiciou, que possibilitou, que criou condições para que a segurança alimentar fosse fragilizada, foi a Rodada do Uruguai. Antecessora à Rodada de Doha e criadora da Organização Mundial do Comércio - OMC, essa rodada de negociações visando reduzir o protecionismo internacional acabou na verdade por reduzir os estoques, principalmente os estoques americanos com a alteração na Farm Bill, a lei agrícola dos Estados Unidos.
Antes os EUA praticavam uma política de estoques reguladores, definiam um preço mínimo para os produtos e se os preços de mercado ficassem abaixo desse mínimo, o governo adquiria a produção e ficava com estoques para atuar na entressafra. Com a mudança da lei o governo manteve o preço mínimo, mas em vez de adquirir os estoques quando os preços caiam, passou a pagar a diferença em dinheiro aos produtores.
Os compradores externos passaram então, na entressafra americana, a recorrem à produção mundial, por exemplo, do Brasil que também reduziu seus estoques reguladores.
Agora o mundo se deu conta de que não dispõe mais de estoques reguladores disponíveis no mercado mundial e cada país produtor, para se proteger, fechou suas exportações. A este fator sim podemos somar:
A produção de biocombustíveis, mas a produção americana e européia que em detrimento de alimentos gera álcool, que custa o dobro do nosso;
O movimento especulativo dos fundos de investimento em direção ao mercado de commodities agrícolas; e
A alta nos preços do petróleo iniciada principalmente depois da invasão do Iraque pelos EUA.
Estes fatores somados e não um único gerou a crise e a inflação alimentar mundial.
Publicado no jornal O Progresso - Imperatriz - MA em 11/05/08

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